15 de outubro de 2024
Literútera: Ela Nasceu Leilás 08 de setembro de 2024, São Paulo, Livraria da Travessa - por ocasião do lançamento de Ela Nasceu Lilás & outras mulheres. Aqui, na Livraria da Travessa, agora atravessam esses corpos macerados pela tirania patriarcal, corpos alvejados a socos e pontapés. São Marias da Penha prenhes de dores, Marias das Dores, Carolinas sem Jesus, Conceições e várias: abandonadas, usadas até a última gota, derradeira moagem da cana, a bagaceira sem eira nem beira. Falas esfoladas pelas navalhas na carne, nos olhos interditados de ver, na boca amordaçada de falar. Mas Leila não cala. Escreve e fala. Dá lugar às vozes dessas mulheres periféricas, emparedadas no próprio parto. O que lemos parte essa quarta parede, quebra ilusionismos dos textos sem texturas. São palavras sem meias parábolas. Quem escreve é o útero. Válvula faminta, boca aberta ao mundo, jorro fêmeo a seco. Literatura-sutura dos esgotos, do arroto bafejante nas fuças das fantasiosas leituras. Nada cheira bem, porque nesse reino não contam fadas. Quem reina nessa rinha não são os galos. São as goelas! Abaixo, elas rogam por elas, descoladas dos quartos de despejos. A tinta – retinta – impregna de lilás as paredes nobres do papel, recusa filtros, descascando – sem sopro – as feridas-palavras, que ardem os olhos e abrem os poros. Exposta leitura, Ela nasceu lilás e outras mulheres nos expõe fraturas, deixa-nos a nu, corpo-a-corpo com nossa pele ao avesso. Senão, que outro modo para desentranhar de nossas vísceras as raízes do preconceito, do machismo e do patriarcalismo, que nos obstruem periferia e centro?! Sim, doi lá dentro o que lemos, mas depois, no ventre, asas abertas, venta lilás a liberdade. Entrem!